Uma campanha publicitária de uma organização chamada Fundo Cristão só pode ser descrita como moralmente inaceitável e discriminatória porque se utiliza de chantagem emocional especista (e do mais baixo nível) para ‘promover’ o que parece ser a causa da criança abandonada. Trata-se de uma imagem em que, de um lado, um cão é apresentando como ‘privilegiado’ e, do outro, uma criança como tendo nada nesse mundo, apenas sua idade. O ‘ultraje’ que a peça publicitária tenta causar é de que vivemos em um mundo onde os animais são melhores tratados do que crianças e que isso de alguma seja parte do problema da criança negligenciada. De onde essa organização equivocada conseguiu arrancar essa associação, realmente é um mistério.
Existem milhões de cães abandonados no Brasil, portanto a situação apresentada é falsa. Não é preciso nem mencionar o caso dos gatos, dos animais usados em tração, pássaros em gaiolas, enfim a maioria dos animais que tem a infelicidade de se encontrar sitiados dentro do universo dominado pelo humano, vive uma situação de horror. Mesmo os animais apresentados como privilegiados por essa campanha esdrúxula, em muitos casos foram comprados por pessoas que os tratam como brinquedos e propriedade. Existe apenas uma aparência de bom trato.
A forma de chamar a atenção para o problema da criança é mostrar suas verdadeiras causas: falta de planejamento familiar no Brasil, o egoísmo capitalista, a disparidade econômica entre humanos e a ignorância perpetuada por instituições religiosas que se opõem à mudanças legais que poderiam diminuir o problema de crianças abandonadas.
Lembrete aos funcionários do Fundo Cristão: a maioria dos cães, e dos animais em geral no Brasil vive uma vida de abandono, fome, doença e violência nas ruas das cidades. Quando não estão nas ruas, estão presos, muitos vezes acorrentados, abandonados nos quintais de pessoas insensíveis ao sofrimento alheio.
Essa campanha despida de ética expressa um situação ultrajante sim: um ultraje à compaixão e a inteligência.
Por Lobo Pasolini
Nenhum comentário:
Postar um comentário