“Embozalado” (Amordaçado), obra de Daniel Segura Bonnet, artista colombiano.
Em um interessante artigo reproduzido esta semana nas redes sociais,
Laurent Bègue, professor de Psicologia Social na Universidade Pierre
Mèndes-France de Grenoble, se refere ao maltrato animal como um novo
medidor que está servindo a criminologia internacional para analisar a
extrema violência que o ser humano pode desenvolver no meio social.
Maltratar um animal é, em muitos casos, a consequência de uma
frustação ou de um trauma e é um comportamento que se adquire durante a
infância. Pode se desenvolver também na adolescência. O maltrato animal
nasce no seio familiar ou escolar e pode se transformar em um
comportamento anti-social.
O maltratado e em especial o maltrato aos animais de companhia está
presente em qualquer grupo humano, pois as crianças assim como os
animais domésticos são os primeiros catalizadores de nossas frustrações.
No entanto, em nossa época, o maltrato animal chegou a um nível
considerável de tortura. Um exemplo disso é a denúncia que um
colaborador do Soyperiodista.com fez há pouco tempo. “Os animais
importam”, publicado dia 03 de maio e que se referia ao caso de um homem
em Ibagué (Tolima, Colômbia), que matou um cachorro segurando pela
cauda e lançando o animal violentamente contra o chão.
A violência contra os animais é mais frequente do que imaginamos,
ainda que uma proteção para não vê-la e não sofrê-la seja a de tomá-la
como uma violência banal: “são somente animais”.
Os atos de crueldade contra os animais falam muito sobre a
personalidade de quem os comete. Esse tipo de crueldade pode variar
desde golpes até a retirada da pele dos animais ainda vivos (cachorros e
gatos pequenos), sem contar a utilização para fins sexuais a que são
submetidos.
Essa relação de violência do homem com o animal impulsionou os
pesquisadores de criminologia a tomá-la como um medidor fiável do grau
de violência em indivíduos que cometeram ou que podem cometer crimes e
outros delitos graves.
Psiquiatras e especialistas em Psicologia Social da Universidade do
Pacífico, na Califórnia, comprovaram, por exemplo, que 45% dos autores
de nove massacres cometidos em escolas nos Estados Unidos durante os
últimos 20 anos haviam praticado atos de barbárie contra seus animais
domésticos.
O professor Laurent Bègue cita um estudo que merece atenção, é o caso
que aconteceu após o massacre na Escola de Columbine, Colorado, dia 20
de abril de 1999.
Os criminologistas constataram que Eric Harris e Dylan Klebold, os
dois estudantes que mataram 12 de seus colegas de escola, um professor e
feriram mais 20 pessoas antes de cometerem suicídio, haviam confessado
que quando eram crianças gostavam de praticar mutilações e provocar
sofrimento aos seus animais.
O professor Bègue se refere a outros dois casos: “Em um estudo
retrospectivo realizado em uma prisão com 36 autores de assassinatos,
36% deles admitiram ter matado ou torturado animais durante a infância e
46% cometeram atos de crueldade durante a adolescência. Em outro estudo
realizado em um meio carcerário com 180 presos, Brandy Henderson, da
Universidade do Tennessee, comprovou que os atos de violência contra
animais que os detidos declararam haver cometido eram particularmente
frequentes”.
Tipos de maus-tratos que os detidos praticam com os seus animais ou com outros animais:
- afogamento (17,5%);
- espancamento (82,5%);
- disparos (33,0%);
- pontapés (35,9%);
- estrangulamento (17,5%);
- queimaduras (15,5%);
- utilizam para fins sexuais (22,3%)
A crueldade com os animais segundo Franck Ascione, da Universidade de
Denver, é um comportamento socialmente inaceitável, pois o intuito do
torturador é causar dor, sofrimento, angústia e/ou morte do animal por
puro prazer.
A psiquiatria permite afirmar que os atos de crueldade cometidos por
uma criança podem revelar uma precoce predisposição para desenvolver
condutas anti-sociais. Uma criança torturadora de animais é suscetível a
ter problemas com a justiça quando for adulta.
As razões que levam um indivíduo a maltratar um animal
Os americanos Stephen Kellert e Alan Felthous, das Universidades de
Yale e do Texas, citam oito razões que levam um indivíduo a maltratar ou
torturar os seus animais domésticos:
1- Controle: o animal é golpeado para que não continue manifestando comportamentos indesejados (latir, saltar, brincar…);
2- Castigo: aplicar um castigo extremo para que não volte a repetir
algum hábito incômodo (ensujar ou vomitar em lugares que são proibidos
para ele);
3- Falta de respeito: Está relacionado a preconceitos culturais. É
quando uma pessoa acredita que pode maltratar ou negligenciar um animal
já que sua condição de inferioridade não o faz merecedor de nenhuma
consideração;
4- Instrumentalização: Utilizar os animais para “dramatizar” a violência, é o caso das rinhas de cães;
5- Amplificação: o animal é utilizado para impressionar, ameaçar ou
ferir uma pessoa. Aqui se verifica a transferência da violência humana
contra o animal;
6- A violência como provação ou como exemplo: Maltratar um animal
perante um grupo com a finalidade de fazer com que os seus membros se
convertam em testemunhas de uma forma de superioridade do agressor. O
indivíduo também pode torturar por diversão;
7- Vingança: O indivíduo agride um animal para vingar-se de seu proprietário;
8- Por deslocamento: O animal é maltratado porque o indivíduo não
tem a possibilidade ou é incapaz de maltratar quem lhe provocou uma
frustração ou uma decepção. Não consegue fazê-lo porque tem medo ou
porque a pessoa é inatingível. É o caso do empregado que espera uma
promoção e que na impossibilidade de tê-la, regresa a casa e dá pontapés
em seu animal doméstico.
A análise do professor Laurent Bègue nos leva a concluir que a
tortura contra os animais nasce de uma má qualidade de vida. Os animais
pagam pela nossa dificuldade para viver, pagam por serem testemunhas
inocentes da nossa própria mediocridade.
Autoria : Loren Claire Canales
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